Mesmo que acabe o isolamento social em algumas cidade, o turismo continuará dependendo de turistas. A estimativa de prejuízo do setor no Brasil é de R$ 2,2 Bilhões de Reais em 15 dias.
Quem trabalha com turismo em Búzios e cidades da Região dos Lagos está padecendo com a crise provocada pelo Coronavirus. Desde o dia 16 de março, que entrou em vigor o decreto do governador Wilson Witzel, passeios de barcos e de bugre e city tours em Búzios, Arraial do Cabo e Cabo Frio tem sido proibidos. Produto da fiscalização por parte de agentes do estado e do município, que tem como objetivo o isolamento social para evitar assim a disseminação do vírus. E não só isso, também pousadas e restaurantes fecharam suas portas, deixando uma parte importante das pessoas que moram na cidade sem emprego e sem certezas do que poderá acontecer.
A preocupação de empresários, funcionários e até trabalhadores autónomos como guias de turismo, fotógrafos, entre outras pessoas que, produto de muito esforço, conseguiram montar seus empreendimentos e quanto tempo o isolamento vai durar, mas principalmente, se o dinheiro arrecadado no curto verão 2020 irá fornecer a comida e o pago de contas e alugueis durante o que ainda resta do ano.
Nessa linha, não poucos moradores tem se manifestado a favor das palavras do presidente da República, quando em seu discurso no dia 24 de março sugeriu a “volta à normalidade” devido a que a pandemia é só uma “gripezinha” que “atinge só idosos, e que devem ser eles que devem se cuidar”.
Pois bem, na verdade não é só que as palavras do presidente não tem sustento cientifico e contrariam inclusive até as recomendações do próprio Ministro da Saúde, também, no caso da cidade de Armação dos Búzios, não contemplam a realidade que vivemos no cotidiano. A principal atividade económica é o turismo, e sem turistas o negócio não tem como funcionar.
Não adianta abrir lojas, disponibilizar passeios e “voltar ao normal” se não tem turista para quem oferecer esses serviços. Não adianta expor funcionários a uma doença que, segundo os profissionais da saúde, cientistas e técnicos experientes no assunto, pode ser letal tal qual está sendo na Itália, Espanha, Estados Unidos e até mesmo no Brasil, com quase três mil casos confirmados.

Na Argentina, um dos países que mais turistas atraem para a cidade, as medidas de controle e prevenção foram adotadas desde o dia 14 de março e tudo indica que o isolamento vai ser estendido no mínimo até 14 de abril. Ninguém pode sair por ordem estrita do governo, que tem montado uma estratégia de controle do isolamento que se estende por todo o território, e não falta muito para que todas as fronteiras, terrestres e aéreas, sejam fechadas tanto para sair como para entrar no pais.
No Chile, que também atraem muito turista para a cidade, foi decretado o toque de recolher desde o dia 22 de março e sem data de finalização, além de fechamento de fronteiras e controle policial nas ruas. Nem falar da Europa, completamente isolada por ser uma das regiões mais afetadas pelo Coronavírus, com fronteiras fechadas e sem voos comerciais para qualquer parte do mundo.
No Brasil a curva de infestados só ascende, mesmo com as medidas adotadas pelos 27 governadores contrariando as palavras do próprio presidente, quem desde a sua fala do dia 24 tem sido criticado por grande parte dos meios de comunicação do mundo por sua falta de critério e pela sua preferência por agradar ao mercado no lugar de preservar a vida humana. Curioso é que na época de eleição o critério médico era inquestionável e prevalecia na hora de justificar a ausência nos debates com outros candidatos, mas quando se trata da saúde do povo o mesmo critério não aplica.

Nem do exterior e nem mesmo do Brasil terá turista na cidade, pelo menos até a crise passar, o que ainda não tem data definida, porque mesmo quem acredita que o Coronavírus é uma “gripezinha”, se não é morador, não vai ter como entrar na cidade. Então o que adianta querer abrir a loja, querer formar grupo para fazer passeio, se nem turista na cidade tem? Logico que é importante pensar em como sair dessa crise e a resposta mais lógica é trabalhando, mas está na hora de cobrar do Estado, do governo estadual e municipal pelas perdas que a crise gera no bolso de quem trabalha em turismo. Para que serve o Estado se não é para assistir quem precisa em momento de crise? Para que você paga impostos se não é para, numa hora como essa, se beneficiar desses impostos para não sair (tão) prejudicado?
Para quem entende que tudo o que está acontecendo é só “histeria” lembramos que até nos filmes sobre catástrofes sempre tem um cientista que avisou o que iria acontecer e ninguém quis ouvir. Para que a nossa vida não seja ainda mais prejudicada, temos que respeitar as recomendações médicas e acatar o isolamento, respeitar a saúde das pessoas e não nos expor ao contagio e a disseminação do vírus, o que só irá trazer um colapso do sistema de saúde que já bastante deve à população. E também exigir do Estado, tanto grandes, medianos e pequenos empresários como trabalhadores, que destine o dinheiro que é do povo para assistir ao povo.
Por Ana Laura Dagorret, jornalista e fotógrafa
